terça-feira, 30 de junho de 2009

Curso técnico de macarons


Muita gente me liga, manda e-mails, sinais de fumaça e tudo mais o que é possível pedindo cursos de macarons.

Demorei um pouco, mas afinal consegui organizar a loucura que é a minha vida e preparar um intensivão de 8 horas sobre a guloseima.

Pedi para o nosso pessoal da arte preparar um "flyer" e estou colando abaixo para os que tem interesse e vontade de aprender, com todos os pulos do gato e dicas necessárias.

No flyer tem telefone, e-mail e todas as informações para quem estiver interessado. Se não der para ler man de e-mail para cursos@sodoces.com.br ou ligue para a loja no 5051-5277.

Outras datas e temas serão lançados em breve... aguardem

Um abraço e até a próxima.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Cachaça

Desenho tirado do site: www.dicasdebebidas.com.br

Cachaça não é doce, mas vem da cana de açúcar. Não é de comer mas pode ser sempre utilizada na confeitaria. Não é sobremesa mas pode nos acompanhar no final das refeições. Versátil e deliciosa, faz parte de nossa cultura desde ................. pelo menos desde que nasci eu sei que existe.

No final; cachaça é cachaça e pronto! Será? Acho que é isso que a maioria fala e pensa sobre essa maravilha nascida e criada em nosso maravilhoso Brasil.

Quando eu era pequeno (ou menor do que eu sou hoje), cachaça era pinga. Coisa que pedreiro (sem ofensa) tomava de manhã no boteco junto com sua caracu com ovo para ter força para subir parede de “broco” na obra.

No inicio da minha carreira profissional (faz tempo), fiz uma trufa com cachaça e ninguém comeu dizendo que era coisa de “pobre”.......... ô ignorância.

Depois de muitos anos a pinga virou cachaça e começou a ser exportada e cobiçada em todo o mundo. Com essa mudança incrível a cultura foi salva.

Falo bastante aqui em amor ao Brasil e nada me deixa mais chateado do que ver que nós só damos valor ao que é nosso depois de perceber que os gringos acham bacana e receber a “chancela” estrangeira de “coisa bacana”.

Recebi um e-mail da minha querida Tia que mora em Campos do Jordão com uma história que é contada no Museu do homem do Nordeste em Recife/ PE e achei uma boa idéia compartilhar com todos.

De qualquer forma, esse post é para mostrar o quanto alguns brasileiros amam a cultura de nossos ancestrais e fazem disso suas vidas.

Se é verdade, folclore, ou também uma outra versão verdadeira dessa história tão grandiosa e bonita eu não sei. Mas que é bacana é.

Divirtam-se e até a próxima.

Antigamente, no Brasil, para se ter melado, os escravos colocavam o caldo da cana-de-açúcar em um tacho e levavam ao fogo e não podiam parar de mexer até que uma consistência cremosa surgisse.

Porém um dia, cansados de tanto mexer e com serviços ainda por terminar, os escravos simplesmente pararam e o melado desandou. O que fazer agora? A saída que encontraram foi guardar o melado longe das vistas do feitor.

No dia seguinte, encontraram o melado azedo fermentado.Não pensaram duas vezes e misturaram o tal melado azedo com o novo e levaram os dois ao fogo. Resultado: o 'azedo' do melado antigo era álcool que aos poucos foi evaporando e formou no teto do engenho umas goteiras que pingavam constantemente. Era a cachaça já formada que pingava. Daí o nome 'PINGA'.

Quando a pinga batia nas suas costas marcadas com as chibatadas dos feitores ardia muito, por isso deram o nome de 'ÁGUA-ARDENTE'. Caindo em seus rostos e escorrendo até a boca, os escravos perceberam que, com a tal goteira, ficavam alegres e com vontade de dançar. E sempre que queriam ficar alegres repetiam o processo.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Goleiro de futebol

Desenho tirado do site "caçador de talentos"

Responda rápido! Devagar também dá!

Qual foi o último grande negócio comercial no Futebol mundial envolvendo um goleiro?

Ta difícil de responder? Não se preocupe... não me recordo de nenhum também. Os grandes negócios comerciais do mundo futebolístico mundial sempre giram em torno dos atacantes.

O que isso tem a ver com confeitaria? Calma..... já vou chegar lá.

Quantos chutes a gol um grande e milionário atacante faz durante um jogo? Não importando a quantidade, quantos balançam as redes?

O raciocínio é fácil. Não importa quantos chutes o atacante dê; as bolas não entram todas no gol por que há um cara preparado para dar tudo de si e fazer uma coisa que ama e para a qual ele é pago: pegar as bolas. Esse é o goleiro.

Se o atacante chuta 10 vezes ao gol e o goleiro pega nove; de quem foi o aproveitamento melhor na partida?

No final do jogo, o time vencedor fica feliz com seu ou seus atacantes que fizeram gols, mas não falam do goleiro que não deixou a bolas do adversário entrarem.

Porque então poucos falam dos goleiros? Porque eles só são lembrados quando pegam penalts em final de campeonato? Não fizeram nada antes disso? Não é verdade que se o goleiro não pegar as bolas durante o campeonato todo, o time não estará lá na final para que ele pegue os penalts?

Entenderam? Não? Pensem de novo e comecem a perceber que na gastronomia é a mesma coisa.

Apesar de os confeiteiros fazerem muito por um negócio, seja ele um restaurante, bufê, hotel etc, o cozinheiro é que sempre leva a fama.

Já trabalhei muito em vários lugares e me lembro que eu era um dos primeiros a chegar e o ultimo a sair. Como as preparações de confeitaria demoram mais para serem feitas e existe um “vácuo” entre sentar à mesa e pedir a sobremesa, eu ajudava nas cozinhas na hora do serviço (soltar prato, botar molho etc). Ao final do último prato os cozinheiros limpavam suas praças e se mandavam, me deixando sozinho para fazer minha parte.

Poucos cozinheiros se preocupam com os confeiteiros, mas reclamam se algo não estiver de acordo. Se o atacante faz o gol, parabéns... ele é o cara. Se não fizer..... foi falta de sorte. Se o goleiro pega a bola não fez mais do que a sua obrigação; mas se não... é frangueiro!!! Entenderam?

Já falei mais de uma vez por aqui, uma coisa que aprendi com o tempo e a experiência: se a sobremesa não foi boa o cliente vai xingar o jantar todo e se for boa vai enaltecer tudo e todos. Há espaço para todo mundo no mercado, mas ego é uma merda.

Para que dividir as realizações com todos da equipe, incluindo o carinha que só sabe fazer bolo e musse? Essa é a visão de quem não conhece a fundo o árduo, cansativo, demorado e preciso trabalho de um confeiteiro. É o mesmo com os goleiros. Ou vocês ainda acham que ele só fica lá no gol e não faz mais nada?

Comecem a reparar que existem muito menos confeiteiros do que cozinheiros. A nossa profissão não é fácil e requer muita dedicação, amor e renúncias que poucos suportam ou querem agüentar. Quem se habilita?

Só para abrir mais a discussão eu também posso falar de mais um goleiro ou confeiteiro das profissões...... o anestesista. O cara estudou medicina a fundo para manter o paciente vivo, as vezes por mais de 12 horas em uma sala de operações sem sentir dor e em perfeito estado. Quando a cirurgia é de transplante de coração então, aí é que coisa pega; já pensaram?

A idéia desse post é mostrar que existem muitas profissões importantes e vitais, mas que são deixadas de lado ou menos respeitadas. No final a historia é a mesma: trabalhamos para a alegria dos clientes e não para nossos egos. Porém a justiça deve ser feita e todos merecem receber o respeito proporcional à sua dedicação e contribuição.

Abraços e até a próxima.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Massa crua!!

Domingão de tempo fechado e frio. Acordar tarde e sair para comer uma bela costela de boi ou bife ancho em sua churrascaria preferida. Isso é que é tranqüilidade.

Uma bela caipirinha de limão galego com cachaça branca de caninha nova, morcillas quentinhas, coração de galinha, bufê de saladas..... ops; bufê de saladas? Espera aí! Se salada fosse bom teríamos rodízio de salada; e uma em cada esquina. Já pensou? “Salada de chão”, Salada Haragana, hortaliças grill..... e por aí vai. Acho que não. Vou ficar nas carnes mesmo.

Bom, voltando a vaca fria; quer dizer picanha fatiada. Ao final de sua maravilhosa refeição você pede uma deliciosa torta de limão. Quando o garçom chega, você logo ataca com uma bela garfada e: decepção! A massa está molenga e sem gosto, crua e pesada. Lá se foi a vontade e a curtição do almoço.

Mais comum do que pode parecer, esta é uma constante em massas doces no nosso país. Parece que as pessoas tem medo de assar massas e de queimá-las no forno.

Massa branca não está assada. É crua!!! Existem algumas exceções, mas a regra geral é essa!!!
Em primeiro lugar, quero deixar aqui consignada minha indignação com relação a um nome em específico de massa que os brasileiros usam. A tal da “massa podre” que todos acham bacana falar, me parece errada demais e fora de propósito em se tratando de comida, em especial de sobremesas. Ninguém gosta de comer coisas podres, salvo algumas culturas bem diferentes da nossa.

Como a massa é quebradiça e de difícil manuseio, alguém inventou esta bobagem de nome, criando uma aversão direta e inconsciente do que quer que seja feito com ela. Já é difícil vender doces em um país aonde o culto ao corpo sobrepõe a vida feliz e sem exageros; imaginem falando que o produto é “podre”.

Massas doces são, em sua maioria, uma combinação de manteiga, açúcar, farinha de trigo e ovos ou água. Algumas levam também farinha de amêndoas, especiarias, cacau em pó, essências etc; mas neste caso, vamos nos ater ao básico.

Cada ingrediente tem uma função específica dentro de uma receita e, para que o máximo de sabor seja extraído, precisamos utilizá-los da maneira correta.

Receita básica de massa
· 300g de manteiga gelada
· 600g de farinha de trigo
· 300g de açúcar refinado
· 3g de sal
· 150g de ovos

1. Misture a farinha com a manteiga até conseguir uma farofa;
2. Acrescente o açúcar e o sal;
3. Incorpore os ovos e trabalhe apenas até ficar lisa.

A manteiga é responsável pela textura, coloração e sabor. Como a gordura derrete abaixo da temperatura do corpo humano, ao entrar na boca ela se desfaz deixando uma textura crocante e untuosa. Já a lactose presente no leite, carameliza (a partir de 125ºC) e dá a cor e parte do sabor.
O açúcar, por sua vez, também é responsável pela textura, cor e sabor. Quando o açúcar carameliza (a partir de 160ºC) ele fica mais escuro, crocante e mais presente. Mais uma vez, temos cor (escuro), crocante (textura) e sabor (mais presente).

A farinha é principalmente um elemento estrutural. A partir de 65ºC o glúten começa a coagular e endurecer ajudando a sustentar a massa “de pé”. Pode também adicionar sabor ao produto final, desde que seja utilizada uma farinha menos refinada ou integral.

Em alguns casos, um pouco de amido (milho, mandioca, batata etc) pode ser adicionado à farinha de trigo para deixá-la menos “dura”. Neste caso, como o amido gelatiniza a partir de 70ºC, ele também será utilizado como agente de estrutura.

Os ovos tem como funções principais a estrutura e a textura. Como a albuminada das claras começa a coagular a partir de 60ºC e a proteína das gemas a partir de 80ºC, ambas vão chegar ao ponto máximo de dureza quando estiverem no forno a 180ºC. Isso dará parte da estrutura necessária a massa. Já a gordura das gemas adiciona textura a massa da mesma forma que a gordura da manteiga.

Com essas informações a mão, podemos, então, nos ater ao preparo; a segunda parte importante para a elaboração de uma bela massa doce.

Ao contrário do pão, que precisa do glúten da farinha para que a elasticidade da massa facilite a retenção do CO2 na formação dos alvéolos; nas massas doces o glúten não pode ser desenvolvido, pois senão o produto final ficaria duro demais. Por esse motivo a farinha deve ser misturada muito rapidamente ao final do preparo ou batida com a manteiga no inicio, para que cada partícula da farinha seja revestida por uma camada de gordura evitando assim a entrada de umidade e o desenvolvimento do glúten.

Em uma das formas de preparo a manteiga é batida com o açúcar até que fique leve e fofa e depois os ovos são acrescentados aos poucos para manter esta emulsão. Ao final a farinha é adicionada de uma só vez e misturada rapidamente. Como a manteiga é emulsionada com o açúcar, esta massa crescerá mais no forno, pois terá mais ar retido.

Outra forma de preparo começa com a manteiga gelada sendo misturada com a farinha até que seja obtida uma “areia” ou farofa. Logo apos, o açúcar é adicionado e finalmente os ovos. Esta massa é mais quebradiça para se trabalhar e também na hora de comer.

Não importando qual o modo escolhido, as massas devem ser levadas à geladeira depois de prontas por pelo menos 1 hora. Depois de abertas e trabalhadas nas formas devem ser resfriadas mais uma vez antes de irem ao forno.

Finalmente vamos falar do forno, parte final e mais importante de todas, pois caso o forneamento esteja errado todo o trabalho anterior será perdido.

Fornos são diferentes, tanto quanto seres humanos. O mesmo forno, da mesma marca, comprado na mesma loja pode apresentar um resultado diferente; por isso, cada pessoa deve conhecer bem seu equipamento, para que nada seja perdido. As temperaturas podem variar um pouco, mas normalmente massas doces são assadas a 180ºC, podendo variar em fornos de convecção ou industriais.

Não adianta dizer o tempo que as massas vão ficar lá dentro. Uma vez que massas mais grossas demoram mais e mais finas menos; as matérias primas utilizadas podem conter mais ou menos umidade; as assadeiras podem estar mais ou menos frias, de acordo com o clima do dia e muitos outros fatores, o melhor é dizer que quando algo está no forno, o “dono da criança” deve ficar de olho fixo como um cachorro esperando um frango assado naquelas televisões de padaria. Só assim você vai conseguir uma massa bela, corada e com a maior quantidade de sabor possível.


Não tenha medo!!! Seja corajoso (a)!!! Espere a massa ficar mais escura, pois a diferença é brutal. Tudo é bem diferente; não só no sabor como na textura.

Da próxima vez que for fazer sua torta preferida, agüente firme e deixe a massa curtir o calor por mais alguns minutos. Não se esqueça de que o recheio que sua avó lhe ensinou pode ser magnífico; mas se estiver em uma massa crua e pesada..... já era.

Abraços e até a próxima.